- LÍNGUA FERINA - Acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia deve alavancar investimentos no país
Embora detalhes dos seus contornos comerciais ainda precisem ser
divulgados, economistas e o empresariado já estimam que um dos primeiros
impactos do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia (UE),
anunciado na sexta-feira, se dará nos investimentos.
A expectativa é que
investidores terão maior incentivo, ainda antes de o acordo entrar em
vigor, para apostar no Brasil, de olho no acesso facilitado ao mercado
europeu, o que tende a impulsionar a competitividade da indústria local.
O ministério da Economia prevê que o pacto gerará aumento de US$ 113
bilhões nos investimentos em 15 anos. Se depender da experiência de
acordos assinados no passado pela UE, a tendência é, de fato, positiva.
O
fluxo de Investimento Estrangeiro Direto (IED) — que considera apenas
aplicações no capital produtivo — entre UE e México triplicou em uma
década após a assinatura de acordo comercial, segundo números divulgados
na sexta-feira pelo bloco europeu. Com a África do Sul, cresceu seis
vezes em dez anos.
— Com o mercado mais aberto, o Brasil reduzirá custos. Muitas
empresas querem se estabelecer aqui para exportar. Isso vai ser bom
também para o consumidor final, que terá produtos de melhor qualidade a
menores preços — destacou Jonathas Goulart, gerente de estudos
econômicos da Firjan, Federação de Indústrias do Rio.
O Brasil já é o maior destino do IED europeu em toda a América Latina
e o quarto maior no mundo. A Europa respondeu por mais de dois terços
dos recursos de IED aplicados aqui em 2016.
Neste sábado, o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) Roberto Azevêdo, disse considerar que o acordo propiciará "um salto de competitividade muito positivo há muito tempo esperado para a indústria brasileira".
Oportunidade e desafio
Além de facilitar o acesso a outros mercados, o acordo também trará
uma previsibilidade tarifária crucial para quem investe em cadeias
produtivas que exigem planejamento a longo prazo, como nas indústrias
automobilística e de base, explicou Carlos Braga, da Fundação Dom
Cabral.
— O acordo traz estabilidade para as regras do jogo. Os investidores
terão mais clareza na tomada de decisão sobre aportar ou não o capital.
"O incremento em investimentos será uma oportunidade única para o país
reduzir seus custos e se tornar competitivo", argumentou José Augusto de
Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). "Tudo isso
dependerá, porém, de um aumento nos investimentos locais em ciência e
tecnologia", alertou Gianna Sagazio, da Confederação Nacional da
Indústria (CNI).
– O acordo vai trazer oportunidades comerciais se a gente se
organizar para ser mais competitivo. A União Europeia vem aumentando o
investimento em pesquisa e desenvolvimento. Para eles, é importante
investir em inovação para ter competitividade. A gente está na direção
contrária. Se a gente não acompanhar o passo dos europeus, os
investimentos deles podem não vir – diz Gianna.
— A UE vem aumentando o
investimento em pesquisa e desenvolvimento para ter competitividade. A
gente está na direção contrária. Se não acompanharmos o passo, os
investimentos podem não vir.
Segundo o diretor comercial da indústria de plástico Nova A3, no Rio,
Gladstone Santos Júnior, as tarifas em vigor hoje tornam inviável a
importação de máquinas e equipamentos mais produtivos.
— Preocupa-me menos o que pode entrar de importações do que o que poderemos vir a exportar — destacou.
A indústria não será a única beneficiada, observa Amâncio Jorge Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP):
— O aumento na exportação de bens agrícolas dinamiza toda a cadeia
produtiva do setor. No governo Lula, o boom das commodities fez o país
crescer, e isso se reverteu em investimento — afirmou, prevendo impacto
mais imediato no segmento de carnes.
Investimentos em alta
Sem o acordo, o Brasil já é um destino atrativo ao investimento
estrangeiro. De acordo com dados da Unctad, agência das Nações Unidas
para o comércio internacional, o país recebeu US$ 61 bilhões em aportes
estrangeiros em 2018. Com a quantia, o Brasil foi o sétimo maior destino
de investimento internacional, atrás de Estados Unidos, China, Hong
Kong, Cingapura, Holanda e Reino Unido.
Entre os dez países com mais investimentos no Brasil em 2018, seis
estão na União Europeia: Holanda (1º), Alemanha (3º), Espanha (4º),
Luxemburgo (6º), Reino Unido (7º) e França (9º). Somados, responderam
por 48% do investimento direto estrangeiro (FDI, na sigla em inglês) no
país.
A julgar pelo interesse de investidores estrangeiros sobre o
Mercosul, os aportes recebidos pelo Brasil devem aumentar daqui para
frente. De acordo com uma pesquisa recente da universidade de negócios
IE Business School, de Madri, com 106 empresários espanhóis de grande
porte, 87% deles relataram que um acordo comercial entre Mercosul e
União Europeia ampliaria o interesse de suas empresas na região, em
particular o Brasil.
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