- LÍNGUA FERINA - TORRE DE BABEL - Os urubus de toga do STF não falam a mesma língua
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF),
considerou “autofagia” a decisão do ministro Luiz Fux de derrubar, na
quarta-feira, a liminar do presidente da Corte, Dias Toffoli. Na semana
passada, Toffoli suspendeu a norma do juiz de garantias por seis meses.
Ontem, Fux derrubou a decisão e suspendeu a legislação por tempo
indeterminado.
Para Marco Aurélio, o colega agiu como “censor” do
presidente.
— A autofagia é péssima, conduz à inseguranca jurídica, ao descrédito
da instituição — disse Marco Aurélio ao GLOBO, completando: — Não há
censor no Supremo, e acabou o ministro Fux assumindo a postura de censor
em relação a um ato logo do presidente do Supremo. Respeite-se um pouco
mais essa cadeira, para benefício da sociedade como um todo. Essa
problemática é nefasta, ruim e perniciosa.
Marco Aurélio costuma chamar de autofagia a prática de um ministro do
STF derrubar a decisão de um colega. Ele citou como exemplo um caso
rumoroso de 2009, em que o ministro deu liminar para o garoto Sean
Goldman ser ouvido pela Justiça antes que fosse definido se a guarda
dele permaneceria com a família brasileira, ou com o pai, nos Estados
Unidos.
Em seguida, Gilmar Mendes cassou a liminar e autorizou que o
rapaz embarcasse para os Estados Unidos.
Marco Aurélio também lembrou que, em 2019, pouco antes do recesso de
fim de ano, deu uma liminar autorizando a libertação de presos
condenados por tribunais de segunda instância. Durante o recesso,
Toffoli cassou a decisão. O presidente derrubou, ainda, outras duas
decisões que tinham sido dadas por Marco Aurélio: uma sobre a licitação
da Petrobras e a outra, sobre a eleição da Mesa Diretora do Senado.
Agora, ressaltou, o próprio Toffoi foi alvo da “autofagia”.
— O que ocorreu comigo poderia ocorrer com qualquer colega. Ironia
que se verifica: o vice que ainda não foi eleito presidente e que o será
em setembro (Fux) afasta do cenário um ato do presidente. Isso é
terrível em termos institucionais e apenas revela tempos estranhos,
muito estranhos. Não sabemos como poderá proceder este ou aquele
ministro diante de uma situação que acredite errônea. Nós, integrantes
do Supremo, ombreamos e acima de cada qual apenas está o plenário, o
colegiado — declarou.
Comentários
Postar um comentário